Educação a distância exige nova postura dos professores
Um ou dois tempos de aula. São 50 minutos, ou até quase duas horas, sem intervalos. Lá na frente da sala, em destaque, o professor. Que fala, quase sempre muito e de forma intermitente, numa retórica sem direito a réplica. Na prática, incorpora a figura clássica de único detentor do saber, sem abrir brechas para contestações, debates ou interrupções por parte dos alunos. Felizmente, cada vez mais há menos espaço para professores assim, até no ensino presencial. O que dizer, então, dos mestres que atuam na educação a distância?
“Costumo falar sobre o perfil do professor de cursos online. E tenho sido questionada também sobre o papel do aluno. Parece óbvio, mas, se a prática docente online fez surgir um novo professor, isso se deu porque há um novo aluno. Além de novas formas de se relacionar com o conhecimento”, diz Máira Pereira, psicóloga e coordenadora acadêmica de Tutoria do Ibmec Online. Segundo a especialista, nesses cursos, o aluno deve atuar como “buscador” do autodesenvolvimento, tomando para si a responsabilidade por cumprir a agenda de estudos e atividades. O que, de forma alguma, reduz a importância do professor. Mas altera o foco de sua atuação.
“Como ser um bom professor online se ainda temos em mente um modelo anterior no qual cabia apenas ao mestre ensinar? Como mediar de fato a aprendizagem online se não há comunicação entre alunos? Sabemos que a motivação é uma força intrínseca e que se traduz em comprometimento e trabalho colaborativo. Somente a metodologia baseada em interação e em colaboração coloca o aluno no centro do processo, firmando assim a imagem do professor como um companheiro e o orientador dos estudos”, afirma ela.
“O acesso e a participação dos alunos são monitorados e acompanhados pelo olhar atento dos professores online. Caso o estudante deixe de acessar o curso por mais de uma semana ou não participe de atividades propostas, é acionado para que se identifiquem as causas reais do seu afastamento e se ofereça apoio”, explica Máira sobre o funcionamento dos cursos EAD do Ibmec, lembrando que, com base nas ferramentas de atividades e acompanhamento, a modalidade permite uma avaliação mais próxima do aluno. E bem mais detalhada do que a verificada no modelo presencial.
Diretor de Ensino a Distância da Estácio de Sá, Pedro Graça destaca o papel fundamental do professor na EAD, como mediador de todo processo de aprendizagem. “Nós entendemos, na universidade, que a tecnologia não é o diferencial, e sim o ser humano. Bons professores e conteúdo criado pelo conteudista resultam numa boa estrutura de curso. Quanto à tecnologia, sempre vai surgir algo novo e todos vão querer usar. O que prende a atenção do aluno em EAD, eu acredito, é a habilidade do professor em usar a tecnologia disponível, e não a tecnologia em si. Do mesmo jeito que a tecnologia pode ajudar, se mal utilizada pode prejudicar. E aí você vira um multiplicador de coisas ruins”, alerta.
E diversas são as possibilidades de atuação do educador no ambiente virtual de aprendizagem. “Temos o professor conteudista, ou professor autor, que trabalha com um designer instrucional. Ele vai modular o curso para a internet, para a realidade a distância. Esse professor conteudista não necessariamente é um professor que vai acompanhar a turma, que chamamos de professor online, tutor. Alguns profissionais se encaixam nas duas funções e, além de serem bons conteudistas, são bons mestres online. E, por fim, temos o professor de estúdio, que é teletransmitido, e tem dinâmica mais próxima do presencial do que do próprio professor online”, explica Pedro Graça.
Com atuação nos cursos a distância do Grupo Educacional Uninter, formado pela Facinter (Faculdade Internacional de Curitiba) e Fatec Internacional (Faculdade Tecnológica Internacional de Curitiba), Benhur Gaio é taxativo ao definir o perfil do professor que atua na EAD. “O educador tem que assumir o papel de construtor, lapidador de ambientes e metodologias que propiciem um aprendizado dinâmico. Seu papel será o de estimular a colaboração entre os alunos no processo de aprendizagem. Só assim o resultado é satisfatório”, avalia.
Uma das precursoras da EAD no Brasil, Dênia Falcão é coordenadora de Avaliação Institucional da UnisulVirtual, braço da Unisul, localizada em Santa Catarina. Ele vê aspectos práticos bem positivos na atuação em cursos a distância. “A maioria de nossos professores prefere atuar na EAD, e não no presencial. Hoje, em muitos locais, o professor enfrenta a seguinte situação: o aluno senta-se na porta da sala, com o pé no skate. Isso acontece sobretudo em instituições particulares, onde rola sempre a reação do ‘eu estou pagando’… É uma situação difícil, onde o professor acaba refém dentro da sala de aula. O fato de ser a distância o livra desse tipo de situação”, pondera ela.
Se, por vezes, livra os professores de situações de agressividade ou constrangimento em sala de aula, a EAD não traz ganhos salariais à categoria. No Rio de Janeiro, por exemplo, o salário máximo que se tem notícia, pelo menos extra-oficialmente, é de R$2.500. E somente podem chegar a esse valor professores-doutores que trabalhem com pós- graduação a distância e ainda acumulem a função de autores. No geral, os vencimentos variam de R$20 a R$100 a hora/aula. O que significa, por mês, até R$1.200 para um professor de curso superior a distância. Estes números caem quando os tutores não apresentam boa titulação.
Paulo Chico